A
MISSÃO, a VISÃO e os VALORES da CARRIS, assumidos no seu site institucional,
fazem-nos crer que estamos perante uma extraordinária Companhia, inovadora, competente
e com um compromisso claro com o serviço que presta.
Assume,
quando fala de ‘Compromissos com o Cliente’, responsabilidades relevantes,
entre as quais, uma que destaco:
- Em colaboração com as entidades competentes, assegurar que o serviço prestado possa ser facilmente utilizado por todos, implementando as medidas necessárias para permitir a acessibilidade daqueles clientes cuja mobilidade se encontre, por algum modo, reduzida.
Perante
o relato do que sucedeu neste final de ano ao Sérgio Alexandre Lopes – UM CIDADÃO
TETRAPLÉGICO – e pelo que sucede diariamente a tantos outros em situações
similares, o comportamento desta Companhia, agora sob a gestão da CML, devia se
denunciado como uma VERGONHA NACIONAL.
O
relato impressionante do Sérgio
“Saí do Terreiro do Paço e dirigi-me à Praça do Martim Moniz, para a paragem onde passaria o 208, que garante o serviço noturno, de hora em hora. Começou a espera de 50 minutos.
O
autocarro chegou às 2h40 e a rampa estava avariada. A temperatura era de cerca
de nove graus e a primeira coisa que o motorista disse, pela janela, depois de
ter tentado acionar umas seis vezes o dispositivo, foi ‘vai ter que esperar
pelo próximo.’ Este é o discurso habitual.
Um
pouco antes do autocarro parar, enviei sms para saber dali a quanto tempo seria
o próximo e tinha a informação de que seriam 112 minutos.
Eu não
estava sozinho e a Carmen já estava à frente do autocarro, informando os
passageiros de que se não fôssemos todos, não iria ninguém. Neste momento, o
motorista foi tentar abrir a rampa em modo manual, mas não conseguiu.
Perguntei-lhe qual a alternativa que a CARRIS me daria e ele insistiu que eu
teria que ‘esperar pelo próximo’.
Os
passageiros foram informados, por nós, do motivo do bloqueio, da descriminação
que a CARRIS promove diariamente, do descaso com que são tratadas as pessoas
com mobilidade reduzida. Um dos passageiros que mais apoiou a nossa decisão,
chamou a PSP.
O
motorista, sem alternativa, entra em contacto com a central. Do outro lado oiço
alguém – dizem eles que ‘é um CHEFE’ – ’Então, se não funciona, o passageiro
tem de esperar pelo próximo autocarro’. Com esta tranquilidade.
CARRIS
– Espere pelo próximo!
(esta deveria ser a frase assinatura da empresa)
Perguntei
qual a garantia que me davam de que o próximo autocarro teria a rampa a
funcionar. A resposta foi: ‘Esteja descansado que a central vai entrar em
contacto com o colega e ele vai ver se a rampa funciona’. Conhecendo a CARRIS,
e não de hoje, isto não é garantia nenhuma, mas sim um ‘fique a aguardar e
depois logo se vê’.
BEEN THERE! SEEN THAT!
Não
confio na CARRIS.
(muito menos numa madrugada com temperaturas abaixo dos 10
graus)
Entretanto,
com autocarro impedido de avançar, tenho todo o tempo para descrever a situação
aos agentes da PSP. Reforço que a situação é constante e, naquele contexto,
tudo se torna ainda mais grave. Expliquei que tenho o mesmo direito que todos
os passageiros a viajar naquele autocarro, que tenho passe, que a CARRIS
incumpre a Lei 46/2006, que proíbe e pune a discriminação em razão da
deficiência e da existência de risco agravado de saúde, e que a alternativa que
a CARRIS me estava a dar era um autocarro mais de 1h30 depois, sem garantias de
ter uma rampa funcional.
Os
agentes identificaram-nos e depois foram conversar com o motorista para
perceber como a CARRIS pretendia resolver a minha situação. O motorista, sem
meios de se justificar pela empresa, passou-lhes mesmo o telemóvel para falarem
directamente com o ‘CHEFE’ que exigia que a PSP identificasse as pessoas que não
deixavam o autocarro seguir a viagem. Ficamos assim a saber que a CARRIS pensa
que dá ordens à PSP.
O
motorista continuava a tentar seguir viagem, mas connosco e alguns passageiros
em frente ao autocarro, era impossível.
O Sérgio e alguns passageiros impedem o autocarro de prosseguir viagem |
Pelo
mesmo motorista chega então a informação de que a CARRIS já teria um autocarro
a caminho, reservado, apenas para me deixar em casa. Ou seja, não efectuaria
quaisquer paragens para tomada ou largada de passageiros. Seria uma forma de me
‘compensar pela situação’, disseram.
Logo
que o autocarro ‘reservado’ chegou, o motorista do primeiro queria ir embora,
os agentes tentaram dissuadir-nos, mas, mais uma vez, por falta de confiança na
CARRIS, foi impedido de ir até que a rampa fosse testada. A rampa estava…
avariada, caros amigos.
O
segundo motorista, visivelmente incomodado, garantiu que testara a rampa à
frente do CHEFE e ‘estava boa.’
O
primeiro motorista continuava a ligação com o ‘CHEFE’ da CARRIS. Apercebo-me
que todos os passageiros estavam a sair do primeiro autocarro, por ordem da
empresa, e que o tal autocarro ‘reservado’, iria continuar a carreira do
primeiro.
Parece-me
claro que o ‘CHEFE’ queria tentar libertar um autocarro, mas não aconteceu. E
doravante não mais acontecerá. Ficaremos todos retidos: nós, os passageiros, os
motoristas e os carros que forem enviados. Interpreto, este momento, a esta
distância, como prova do foco errado da CARRIS, em relação ao que ali estava a
ocorrer.
O
motorista do segundo autocarro, sentindo-se inseguro, porque, por esta altura,
os primeiros ânimos começavam a exaltar-se entre alguns passageiros, pergunta
aos agentes da PSP o que deveria fazer e se seria seguro fazer aquela viagem.
Entretanto,
a rampa deste último conseguiu ser aberta manualmente e entrei.
Os
polícias, mais uma vez, pelo telefone, questionam o CHEFE da CARRIS acerca da
situação. O ‘CHEFE’ foi peremptório – o primeiro autocarro seguiria fora de
serviço e o segundo seguiria com todos os passageiros que se juntaram ali ao
longo de mais de uma hora. E não éramos poucos. A resposta do senhor agente
àquela decisão da CARRIS foi ‘vocês é que
sabem a imagem que querem dar da empresa’.
Não
somos cidadãos de segunda.
Não deixarei que me tratem como se fosse.
Não
sou o primeiro a fazer este tipo de ação, mas não podemos deixar que situações
como esta se repitam, a cada hora, sem fazermos nada.
Agradeço
ao grupo de passageiros que se juntou a mim.
Agradeço aos agentes da PSP que,
desde o início, disserem que não nos iam deter pela validade da nossa posição
ali.”
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