O mercado de trabalho desconhece a eficiência de uma pessoa com
deficiência motora
Considera João
Antunes que,
“Nos processos de recrutamento
cheguei a ser questionado se por questões de imagem a utilização da canadiana
seria algo momentâneo ou definitivo, e ouvi as desculpas mais incríveis para
camuflar a falta de desejo e vontade em dar-me uma oportunidade”.
"O pontapé de saída no mercado
de trabalho foi dado em novembro de 2009, numa empresa de telecomunicações. Não
me esqueço que, após o término da entrevista, fui questionado se era uma pessoa
que costumava faltar por questões de saúde. Com base nesta questão, e apesar da
minha resposta (só faltava ao trabalho se não me conseguisse levantar da cama),
pensei que as minhas hipóteses eram perto de nulas. No entanto, tive uma
agradável surpresa: fiquei com a posição e tive a oportunidade de conhecer
colegas fantásticos e um country manager a que ainda hoje, passados mais de dez
anos, agradeço tudo o que fez por mim”.
“Esse ano de experiência
ajudou-me a percorrer os primeiros quilómetros numa realidade completamente
ímpar, mas nunca imaginando o que estava para vir. Nessa altura, quando olhava
para a vida e fazia dela um videojogo onde as minhas escolhas eram feitas sem
qualquer limitação, estava longe de pensar que alguns anos depois elas seriam
infinitamente limitadas.”
“Quando deixei este emprego,
posso afirmar que sofri em primeira mão as piores experiências de alguém que
possui vontade de trabalhar, mas que face às suas limitações acaba por sofrer.
Nessa fase, decidi arriscar em omitir no meu CV a adenda reportando a minha
incapacidade física, isto porque pretendia que as pessoas me avaliassem pelas
minhas valências e não pelo handicap que possuo”.
“Durante o período de
desemprego fui entrevistado numa esplanada de café, por falta de
acessibilidades e de infraestruturas adaptadas. Muitas vezes, era forçado a
visitar no dia anterior a empresa, para averiguar os sistemas de mobilidade do
espaço. Fazia este trabalho prévio para não ser apanhado desprevenido no dia da
entrevista”.
“As “negas” contínuas que fui
acumulando estavam a tornar-me ainda mais forte psicologicamente, mesmo que a
revolta muitas vezes se apoderava de mim. Não esperava compaixão, empatia ou
ser utilizado como uma bandeira direcionada à inclusão no mercado de trabalho.
O meu objectivo sempre foi aprender, evoluir enquanto profissional e ser humano
e, acima de tudo, acrescentar valor à instituição que me desse a oportunidade”.
“Passados alguns meses sem
trabalho, sou convidado pelo anteriormente mencionado country manager a
acompanhá-lo num novo desafio – ao qual respondi afirmativamente. Numa fase
inicial desta nova aventura, conseguia deslocar-me até às instalações da
empresa, mas sempre com a premonição de que mais tarde ou mais cedo aquela
variável seria alterada até porque tanto o estacionamento, como os acessos às
instalações, não estariam aptos para uma pessoa incapacitada fisicamente”.
“Infelizmente, alguns meses
depois dei início a uma nova realidade: o teletrabalho. Não sou o maior
apologista deste modelo de trabalho para quem está a começar um novo desafio
profissional. No meu ponto de vista é um obstáculo à integração, dificulta a
compreensão dos processos da empresa e não permite conhecer adequadamente os
colegas. Esta falta de entrosamento pode desencadear uma péssima experiência”.
Queixas de discriminação por deficiência sobem 30%,
a maioria por causa de acessibilidade
O Instituto
Nacional para a Reabilitação (INR) continua a fazer 'discursos', só registou uma
contra-ordenação. O acesso a direitos fica em segundo lugar entre as queixas
mais frequentes. Quem está no terreno fala de ineficácia da lei e de falta de
fiscalização e o INR não se mexe!
Entrevistado: João
Antunes : Natural de Lisboa. Brand Manager na Bee Engineering ICT. Lema de
vida: aceitar, adaptar e avançar
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Fonte:
PUBLICO
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