Estudou jornalismo, mas foi técnica
de comunicação numa empresa de ambiente. Não é jornalista na prática, mas é o
gosto pelas letras que faz mover a sua cabeça, ainda que as pernas não lhe
obedeçam. Fez uma certificação em Coaching Internacional e é oradora
motivacional. É convidada para falar em público acerca da sua visão otimista da
vida em empresas, escolas, seminários e foi ainda oradora numa Ignite e dois
TEDx. É voluntária em projetos de solidariedade social, tem um olhar humanista
e aguçado do mundo e por isso dá a cara e a voz pela inclusão e pela igualdade
de oportunidades, sempre que lhe dão tempo de antena. Mafalda Ribeiro não vê
limites diante das suas limitações.
“O que
quero que me defina é a minha atitude no momento em que preciso de aprender a esperar
pelo momento certo que eu não controlo (…) no outro dia, tive mesmo de dormir
vestida para aprender”, conta Mafalda Ribeiro numa entrevista à VISÃO.
Mais
do que um testemunho pessoal, o que aconteceu à Mafalda e o modo como ela
encarou a situação, acaba por realçar o valor da entreajuda, porque na verdade
todos dependemos, de alguma forma, uns dos outros.
“Totalmente
despida de vergonha do que aconteceu, conto-vos o que foi um ‘valente azar’, na
possível avaliação de quem vê isto da vida como uma sucessão de acontecimentos
aleatórios. Era véspera de um dia importante para mim. Uns dias antes, tinha
comprado um vestido novo para estrear nessa ocasião. Era o meu número, portanto
pendurei-o, mas não o experimentei. Estava a preparar-me para ir dormir, quando
olhei para ele e pensei: afinal não tenho tudo preparado para amanhã. E se o
vestido não me serve? Mais vale saber já hoje, do que ter uma surpresa amanhã
de manhã e começar o dia aborrecida. Ao menos tenho tudo ‘controlado’. Achava
eu e é o que achamos todos, afinal nós é que controlamos isto. Despi o pijama,
à exceção de uma camisola interior justa ao corpo. Vesti o vestido novo por
cima e fui ver-me ao espelho. Incrível, assentava-me como uma luva! Até parecia
que tinha sido feito para mim. Sorri, como que a elogiar-me, ainda ao espelho,
e à minha decisão de ter comprado aquele vestido. Pronto, já podia ir
deitar-me, pois dali a poucas horas estaria de pé outra vez (salvo seja!) para
um dia cheio de emoções. Fiz a minha manobra habitual, com os meus braços
curtos e deformados para despir o vestido e… ups… então? O vestido não queria
sair! Sem fechos, botões, aberturas, nada que me pudesse facilitar. Parecia que
estava enfiada dentro de uma camisa-de-forças. O maldito vestido entrou
facilmente, só que para sair só tinha duas hipóteses. Estragá-lo, com a ajuda
de um objeto cortante. Ou recorrer à ajuda de outra pessoa para, literalmente,
me içar os braços e puxar o vestido. Onde estava essa pessoa? Eram três e tal da
manhã, eu vivo sozinha e… quem me mandou a mim ter ido vestir o vestido àquela
hora? Num impulso, fui à cozinha, peguei na primeira faca que encontrei e
voltei para a frente do espelho. O cenário era hilariante e felizmente não
durou mais do que alguns minutos: eu a olhar para mim, com uma faca em riste,
quase maior do que eu, prestes a “esfrangalhar” um vestido que entrou mas não
saía. E se me “esfrangalhasse” a mim? Com o jeitinho que eu tenho para manusear
facas, era o mais certo! Pousei a faca. Baixei os braços e deixei de lutar
contra aquilo que não podia controlar. Rendi-me sem soltar uma lágrima ou
iniciar uma depressão. Soltei uma gargalhada, pela minha figura. Agradeci a
lucidez de ser capaz de aceitar que aquele bendito vestido tinha vindo afinal
para me ensinar muito acerca do que significa a dependência, a paciência na
espera e a beleza que há em pedir ajuda. Sorri outra vez para o meu reflexo e
continuava a sentir-me bonita. Vesti o pijama por cima do vestido e fui para a
cama. É que no dia seguinte alguém iria levantar-me os braços, como tem
levantado sempre que me canso nas lutas, e o vestido continuaria a ser apenas
um vestido, que já nem faria parte de mim”.
Eu sou
aquela que despida de preconceitos assume: “Preciso dos outros e sou abençoada
por isso. Antes eles que comprimidos”
Mais
no blog Mafaldisses
Fonte:
Revista VISÃO
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