Sociólogo
em Coimbra, Fernando Fontes, é autor do mais recente retrato sobre a vida das
pessoas com deficiência em Portugal, ensaio publicado pela Fundação Francisco
Manuel dos Santos.
O seu interesse
por esta temática surgiu na escola primária, quando conviveu com um colega com
paralisia cerebral. Era um miúdo absolutamente integrado, sem limitações
cognitivas. As suas dificuldades eram essencialmente motoras. A certa altura o
seu colega foi para uma instituição para crianças e jovens deficientes e,
alguns anos mais tarde, por volta dos 18 anos, suicidou-se. Um acontecimento
que o marcou porque desde logo se apercebeu da exclusão em que vivem muitas
pessoas com deficiência, e do devastador que isso pode ser para as famílias.
A perceção
do investigador Fernando Fontes:
O
sofrimento das pessoas com deficiência vem mais de fora do que de dentro?
Creio que vem muito de fora,
mas as coisas estão interligadas. As pessoas com deficiência continuam a ser
alvo de grande discriminação e opressão, quer pelas barreiras físicas, quer
pelas barreiras psicológicas relacionadas com o estigma da deficiência e com as
conceções dominantes sobre o que é um corpo normal. Esses preconceitos acabam
por ser internalizados pelas pessoas com deficiência, o que tem um grande
impacto na sua auto-estima (…) Isto para não falar das dificuldades na escola ou
no trabalho, onde não existem os apoios especializados necessários à sua
inclusão ou os espaços físicos continuam inacessíveis.
Quando
anda na rua em que repara?

O que
leva ao isolamento?
Em alguns casos, sim (…) 60%
das pessoas com dificuldades motoras no país vivem em edifícios com três ou
mais pisos, em edifícios sem elevador e sem entrada acessível para cadeira de
rodas, percebemos a gravidade da situação (…) Há pessoas com deficiência a
viverem enclausuradas nas suas próprias casas.
A
ideia de “vida independente” tem estado a ganhar força. O que está em causa?
No final do ano passado
começou o primeiro projeto-piloto financiado pela Câmara Municipal de Lisboa,
com cinco utentes, e a expectativa é que, até ao final do ano, saia legislação
(…) No fundo, a ideia é permitir que as pessoas com deficiência tenham a mesma
liberdade de escolha, o mesmo controlo e a mesma liberdade nas suas casas, no
trabalho e na sua comunidade que as pessoas sem deficiência.
Um dado
que cita no seu livro prende-se com a taxa de emprego: é metade da população em
geral. E 79% dos que estão inativos são reformados, embora apenas 6% fossem
incapazes para o trabalho. O que explica estes números?
O preconceito. Tem havido
iniciativas de promoção do emprego, incentivos aos empregadores para adaptação
do posto de trabalho e benefícios fiscais, mas o facto é que o preconceito
continua a existir (…) Muitas pessoas com deficiência são imediatamente
excluídas nas entrevistas.
Que
mensagem gostava de passar com este livro?
Temos de deixar de olhar para
a deficiência como uma tragédia pessoal (…) As famílias têm receio quanto ao
futuro e a quem cuidará dos seus filhos quando não estiverem cá, mas um
aprofundamento da redistribuição social, mais políticas públicas consequentes e
menos preconceito permitiriam dar às pessoas uma maior qualidade de vida.
Fonte: Jornal i
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